terça-feira, 4 de novembro de 2008

Não sei, só sei que foi assim...

A cidade já era famosa pelo nome que tinha. Aliás, quase tudo ali tinha seu nome, desde a praça à rua principal. Não havia alma naquele mundo que não soubesse de quem se tratava o famigerado coronel. Desde sempre havia vivido ali, era influente, prestativo. Daqueles que registrava os filhos com dois sobrenomes. Dele mesmo. Garcia Ribeiro. E a tradição se transferira aos netos, bisnetos e todas as gerações seqüentes.

Diziam que era afinado até no assovio. Talvez porque o coronel fora membro da banda que tocava marchinhas de carnaval no coreto da praça, talvez porque ouvira o som do vento nas folhas do cafezal que cuidava e assim aprendeu. O fato era que jamais alguém seria capaz de fazer um “o teu cabelo não nega mulata...” daquela forma.

O coronel ensinava muitas coisas. Ensinava a tocar trompete e a ver novela escondido da avó. Ensinava a pescar . Daquela pescaria tradicional, com minhoca, varinha de bambu e mão suja de terra da briga travada entre a dificuldade dos primeiros contatos da pobre bichinha com o anzol. Mas uma coisa o coronel não conseguiu ensinar. O diabo do papagaio, seu companheiro, não aprendeu nem com reza a falar. Contam que nunca deu um assovio. Nem um “curupapo”, que fosse, o bicho falou em tantos anos. Mas era mais fiel que um cão e o coronel se contentava em coçar a cabeça do “loro”, todo arrepiado e derretido com os afagos.

Toda a Coronel Benedito lhe pedia a benção quando o próprio passava pela rua. Fosse a pé, com o papagaio a tiracolo e sua bengala austera, imponente – usada apenas por finesse, não por necessidade -, caminhando pelas ruas de paralelepípedos que ele mesmo havia mandado calçar ou fosse de carro, com o vidro entreaberto acenando aos meninos que gritavam seu nome enquanto passava.

Coronel Benedito não era lá muito grande, tinhas seus pouco habitantes, mas todos, sem exceção admiravam o coronel. Tudo era muito bom, mas melhorava ainda mais quando se dizia ter vindo em nome do coronel. Parece até que prefeito havia sido, por todo o sempre, na localidade. E parece mais ainda que há muitas e muitas histórias sobre ele. Inacreditáveis fatos. Coisas que só alguém que ainda escreve ao coronel há de contar...

2 comentários:

Lu disse...

Teve uma coisa sim que o papagaio aprendeu a falar - Rafel, o nome do neto-filho. D. Juvelina, mulher do Coronel, vivia a berrar:
- Rafael, Rafael.
O memino não dava sosego. Mas, também, coitado, toda a família queria lhe chamar a atenção. O papagaio é que não ficaria de fora dessa.

Júlia disse...

Não podemos esquecer que o tal papagaio ficou encarregado de salvar a neta do Coronel na apresentação do TCC. Afinal, o papagaio entraria a qualquer momento na sala, pousaria no ombro de uma das pessoas da banca e entregaria uma mensagem do Coronel...